domingo, março 11, 2007
Quando se fala em construção do conhecimento, reporta-se normalmente ao ensino formal, às teorias educacionais (o construtivismo é uma delas), aos grandes educadores, pensadores, filósofos, pesquisadores... Nem sempre a cultura popular faz parte do currículo de ensino oficial. Então, passamos a discutir muito coisas universais, mas pouco tratamos da realidade cotidiana, da própria comunidade escolar... Sabemos de cor e salteado quem descobriu a América, o Brasil, etc. Desconhecemos os vultos históricos da própria cidade, que deram nome às ruas, às praças, às escolas e tudo mais...
Muitas vezes damos vazão a uma visão elitista dessa engenharia social, sem levar em conta o conhecimento do próprio operariado dessa construção: o povo em si.
Nessas férias, aproveitei para fazer alguns reparos na casa, e apelei para alguns prestadores de serviços, indicados por amigos, pela capacidade, confiança, rapidez e, além disso, o baixo custo. Com os três (um encanador, um eletrecista e um pedreiro), fui o ajudante e aprendiz. Aprendi algo que já sabia antecipadamente, aliás, só tive a confirmação: a importância da escola e do conhecimento para a valorização profissional e ascensão social, mas apesar disso, não é necessário uma grande escolaridade para se realizar atividades complexas, desde que haja muita dedicação por parte de seu executor. Conversando com cada um desses operários, um de cada vez, vendo sua forma de trabalho, percebi uma técnica simples e eficiente, com cedrteza, aprendido ou de pai para filho, de irmão mais velho para o mais moço, de um tio, vizinho, amigo. Deixcaram a escola cedo para trabalhar, não por não gostarem de estudar, mas por questão de sobreviência. Falando sobre política, esportes, educação, tecnologia e assuntos variados, pude notar que todos têm uma grande consciência da engenharia social a qual estão vinculados, seja qual for a classe social, a escolaridade, a cor da pele, religião, ideologia que possamos ter. Vendo-os trabalhar, atrevo-me a dizer que posso agora fazer alguns pequenos reparos, evidentemente sem a mesma técnica e eficiência e rapidez. Embora também seja um aluno dedicado. O que cada um fez em dias, horas ou minutos, eu levaria, com certeza, dias e/ou semanas. Sem a garantia de um trabalho tão bom...
A educação formal deve saber valorizar a cultura popular que o alunado traz na mochila, mas nem sempre quer mostrar. O educador deve utilizar em alguns casos a interdisciplinaridade e multidisciplinaridade para repassar o conteúdo curricular.
Sempre é bom lembrar que 3 dos maiores artistas brasileiros beberam na fonte da cultura popular para elaborar suas obras-primas: Cândido Portinari, retrantando o povo brasileiro, através dos retirantes; Heitor Villa-lobos, com suas sinfonias flertando com os ritmos populares, vide O Trenzinho Caipira, As Bachianas, etc, e Monteiro Lobato (que disse que um país se faz com homens e livros), criando um mundo imaginário no Sítio do Picapau Amarelo, onde desfilavam, além dos personagens nacionais, os mitos da antigüidade e outras figuras históricas. Cresci assitindo o Sítio e aprendendo um pouco de arte, cultura e história a cada capítulo veiculado. Ano passado, junto com minha colega Janaína, resolvemos batizar cada máquina do Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) - Rio Grande/18ªCRE, com o nome e a figura de uma das personagens de Monteiro Lobato. Em cada monitor do PC, Janaína colocou uma etiqueta com a imagem ou da Narizinho, Pedrinho, Dona Benta, Emília, Visconde, Tia Anastácia, Cuca, junto ao número da máquina na rede, e o número do patrimônio público.
Quem mais gostou dessa novidade, deste Sítio (ou seria site?) foram às crianças do projeto de informática na educação especial...
A construção do conhecimento torna-se mais sólida e resistente ao tempo, quando sabemos delegar tarefas e atividades ao grupo, onde cada qual é responsável por sua parte, e cada parte é responsável por um TODO, em comum. O construtivismo foi um grande aliado nessa nossa "empreitada", e pretendemos continuar com esse projeto e outros mais. Breve colocaremos no ar um blogue específico para divulgar as atividades do Núcleo, batizado de ambieNTEscolar = a junção das palavras ambiente e escola, centralizadas pelo NTE.
A imagem acima (de Albert Einstein ao lado de um muro, tocando violino) é uma colagem de minha autoria, a partir de revistas antigas, a maioria adquiridas em sebos por preço quase simbólico. Nem sempre precisamos de grandes recursos tecnológicos para fazer um bom trabalho. Mas, quase sempre, tendo tais recursos, necessitamos de capacitação continuada, infra-estrutura e recursos humanos e financeiros para a sua manutenção e conservação... Assim como alguns avisos aos internautas, colocados em sites em fase de acabamento, devemos ter a consciência que nada nem ninguém está de todo pronto (seja aluno ou professor), e sim, em eterna construção, reconstrução, desconstrução; dependendo de quem coordena os projetos ou processos sociais. Eis a grande lição que aprendi, ainda jovem, e procuro repassar aos jovens de hoje, futuros operários e construtores do amanhã...
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