Educação no século XXI
Por Jocelyn Auricchio e Filipe Serrano
São Paulo, 04 (AE) - Camila tem mais de 200 amigos no Orkut. Em seu blog, ela comenta sobre os acontecimentos do dia, fala sobre o último show dos Rebeldes e não se conforma por que mudaram os poderes das bruxinhas do desenho W.I.T.C.H. Também participa de um grupo de discussões online sobre Harry Potter - não vê a hora de o próximo livro sair. No microfone do PC ela faz um podcast sobre moda, sua outra paixão. E o tempo que sobra entre todas essas atividades, ela "perde" na chatice da sala de aula.
Camila é apenas um personagem ficcional, mas reflete bem o que acontece com a garotada de hoje. Para quem vive em alta velocidade na estrada da informação, onde tudo acontece ao mesmo tempo, é quase insuportável o vagaroso processo de aprendizado da escola clássica. Copiar a matéria da lousa então é um verdadeiro martírio.
Para reconquistar seu "público-alvo", escolas têm usado a tecnologia para afugentar o tédio das salas de aula, capturar a atenção dos jovens e melhorar a relação professor-aluno. Aulas de robótica para crianças de 1º ano aprenderem a raciocinar e interagir em grupo, mapas 3D que ajudam a entender geografia e esqueletos digitais que mostram como o corpo humano funciona estão chegando às salas de aula. Até ética na internet é matéria obrigatória para os alunos enfrentarem esse admirável mundo novo com cidadania e respeito.
Mas até que ponto a tecnologia na sala de aula é eficaz na educação dos jovens e não apenas um chamariz publicitário para pais desinformados? A reportagem visitou escolas e ouviu educadores e alunos, em busca da resposta. Tome nota. A sala de aula do século 21 não é mais a mesma de antigamente.
ROBÔS INSTIGAM CRIANÇAS A ANDAR COM AS PRÓPRIAS PERNAS
Toca o sinal e as professoras Luciane Vellozo e Rosângela Accioli começam mais uma aula de robótica. Nos primeiros 20 minutos, elas explicam a tarefa do dia: fazer o carrinho andar sobre o desenho de uma rua. Os 16 alunos do 5º ao 8º ano terão mais 30 minutos para resolver o problema. Logo se debruçam sobre os computadores onde vão comandar todos os movimentos do robozinho de peças de Lego. Quase nenhum deles dá bola para a reportagem ou para os flashes do fotógrafo. Querem mesmo é fazer o motor funcionar.
A oficina de robótica do Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, não é obrigatória. "É uma aula totalmente prática para estimular a criatividade e a interação entre os estudantes", diz a professora Luciane Vellozo. "Sempre temos um projeto para desenvolver e, com isso, trabalhamos conceitos de física, matemática e eletrônica".
Mas os alunos ainda nem estão preocupados com os conhecimentos por trás da tarefa. O desafio é uma diversão, e isso que importa. "Gosto de montar e programar coisas e tenho um kit em casa. Já criei até um dinossauro que andava", diz o garoto Jeeho Lee, 10 anos. Ele conta todo orgulhoso que foi o campeão da corrida de robôs do colégio no ano passado.
No Colégio Santo Américo, também em São Paulo, os alunos começam cedo a descobrir a robótica. Mesmo os mais novinhos, ainda na pré-escola, são estimulados a interagir entre si e trabalhar em grupo. A idéia das escolas que adotam a robótica é estimular o raciocínio lógico, a cooperação e principalmente proporcionar aos alunos a satisfação de criar algo sozinhos.
Já na escola municipal Coronel Luís Tenório Brito, também na capital, os alunos montam carrinhos, aviões e até guindastes. Mas a aula está muito atrás das escolas particulares. Nenhum dos objetos montados têm motores, circuitos elétricos ou mesmo são programados pelo computador. "Para os alunos é tudo novo e no começo eles têm dificuldade. Temos que começar do básico para mostrar a estrutura. Não adianta fazer um robô direto", afirma Viviane da Cruz da ONG Mosobe, que administra as oficinas na escola.
Segundo o pesquisador em Robótica Educativa do Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Unicamp, João Vilhete D’Abreu, um aluno alfabetizado já está apto a fazer programação de robôs. "No pré-primário, já se pode trabalhar conceitos de peso, velocidade e formas geométricas", diz.
Mesmo as aulas de robótica das particulares deveriam ser incrementadas, segundo D’Abreu. "Sensores que ativam um movimento pela presença de luz ou cores, além de dispositivos de inteligência artificial mais robustos, já poderiam ser usados. Assim, os alunos se aproximariam mais da automação", afirma.
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