quarta-feira, abril 18, 2007

Educação e cultura II


De vez em quando encontro alunos da escola onde está o NTE, ex-alunos, ou aluno de outras escolas, que fiz amizade pelo trabalho ou por palestras (mais bate-papo) sobre literatura, educação e tecnologia. Noutro dia encontrei uma aluna no ônibus pra faculdade, e ela me comentou que sempre dá uma visita no meu blog, e alguns colegas dela também. Portanto, esse espaço, além de ser utilizado para interação da especialização em tecnologia educacional, serve para divulgar notícias, idéias e outras informação, preferencialmente sobre educação e tecnologia.
E hoje na volta, noutro ônibus, encontrei mais um conhecido, ex-aluno do ensino médio, que hoje está na universidade e viemos conversando. Ele tem a idade pra ser meu filho, e conversa vai conversa vem, acabamos falando de educação, tecnologia, mas principalmente de arte e cultura, outras duas área em que atuo, como ativista cultural...
Contei pra ele, que muita coisa aprendi, não apenas na sala de aula, mas através de fontes de informação hoje não tanto eficientes como no meu tempo. Uma delas as HQs. Num história em quadrinhos do Mickey, aprfendi através do enredo que o sol nasce sempre no leste e morre no oeste. Deveria estar na segunda série, e nunca mais esqueci. Com os álbuns de figurinhas, que traziam informações sobre ciências, história, geografia. Um deles, se não me falha a memória, chama-se Homens em Ação, e trazia dados desde o primeiro homem que desceu na Lua, aos grandes inventores, os grandes cientistas, as maravilhas do mundo... Fui criando um banco de dados "biológico" que nunca mais me esqueci, graças a associação da informação escrita aliadaà imagem. Isso na década de 1970, em plena ditadura, onde a música Cálice, de Chico Buarque, cantada por ele e Milton Nascimento pra mim era apenas uma bela música sobre vinho. Risos. Pouco tempo depois fui percebendo que o cálice, na verdade er auma forma criativa de burlar a censura (cale-se...). Aprendi nos catálogos de livros que vinham encartados na revistas de palavras-cruzadas nome de livros e seus autores, principalmente os clássicos da literatura, graças também ao desenho das capas dos livros: adorava a do Robin Hood, de Ivanhoé, Dom Quixote... Tinham outras, que eram estranhas pro garoto, mas que o deixavam curioso, como O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. Mas o que me deu uma enorme fonte de conhecimento foi um velho dicionário de meu avô paterno, que foi farmacêutico, dicionário ilustrado, de década de 1920, que traziam muitas figuras, e breves explicações sobre cada uma. O menino que já fui um dia devorava cada desenho, e muita coisa de lá pra cá ficou... Tal dicionário ainda existe, e hoje tem um valor inestimável, pela questão familiar e valor histórico do mesmo... O menino mal sabia que um dia seria escritor e historiador.
Hoje, infelizmente, os álbuns de figurinhas, as HQs, e outros, comparados aos de minha infância e adolescência relegaram a qualidade e a informação em favor da quantidade e do lucro fácil. Nada contra, apenas uma constatação: as mesmas figurinhas carimbadas na TV, seja no humor ou noutras programas. Pergunto: um álbum sobre o RBD, um programa de Reality Show, um livro de auto-ajuda, uma música do bonde do Tigrão, o que de arte, cultura e informação pode deixar nos jovens de hoje que desconhecem Chico e Caetano, se a concepção e o acabamento do produto visa a descartabilidade? Por isso, quando falam que a geração atual que não tem os mesmos valores que a de seus pais, devemos ter em mente que o jovem de hoje é exposto a um modelo que leva justamente a isso: a descartabilidade, não apenas das coisas, mas das pessoas. Educação e cultura são, na minha opinião, como siamesas que precisam andar sempre juntas.
Observação: Imagem acima "Self Help" (algo como auto-ajuda), de Jasinski.