quarta-feira, abril 18, 2007
Volto a um tema que me é familiar e instigante (por fazer parte do meu dia-a-dia), principalmente quando ouço seja na TV, na escola, na rua, em qualquer parte todos repetirem que o caminho para a resolução dos graves problemas sociais do país é a EDUCAÇÃO - não apenas com o E maiúsculo, mas com todas as letras "garrafais"...
Torno a dizer que essa frase de tão repetida e banalizada, virou chavão, lugar-comum, clichê...
Ai eu me pergunto e pergunto também a quem se interessar em responder-me: Mas qual Educação?
Educação formal e tradicional, que já tem sobre seus ombros a responsabilidade pelo ensino e aprendizagem? E mais precisamente sobre às escolas e os professores de sala de aula, que além de educadores são psicólogos, assitentes sociais, enfermeiros etc?
Ou educação familiar de onde parte o aluno e quando chega na idade escolar já tem, segundo especialistas, a sua personalidade formada (e onde a televisão é o gande educador antes mesmo da criança atingir a idade escolar)?
Emir Sader, cientista político, disse: "No Brasil, existem projetos de governo e não de Nação". Claro, mudam-se os governos e os projetos também...
Mas o que é Nação? Qual seu conceito?
Segunda-feira (16/4), no mestrado de História da Literatura, do qual sou mestrando, participei de Curso sobre a Literatura Canadense, proferido pelo professor e escritor Albert Braz, canadense de origem portuguesa, que discorreu, ora no idioma inglês, ora no lusitano algumas considerações, justamente sobre nação, sobre cultura, literatura, identidade, não apenas no Canadá, mas também de forma mais universal.
Confesso que leio alguma coisa em inglês (principalmente textos técnicos e de informática, já que trabalhando num núcleo de tecnologia educacional, o inglês é quase a língua universal), mas em questão de conversação e entendimento sou limitado, não tenho fluência. Na prova de proficiência para ingresso no mestrado optei e fui aprovado em língua espanhola, que domino um pouco mais, por ser descendente de espanhóis e viver num estado fronteiriço aos hermanos uruguaios e argentinos. No passado, tal fronteira assistiu a encarniçadas disputas bélicas. Atualmente, o Mercosul é um projeto que lembra vagamente à inclusão de países num bloco pra ter vez e voz diante de estados nacionais mais desenvolvidos.
Porém, retomando a questão da educação, de nação e de identidade, creio que, como coloquei ao prof. Braz, há uma distinção entre identidade nacional (mais restrita ao local, ao espaço geográfico) e identidade cultural (mais ligada aos usos, costumes e cultura de um povo, em determinado local). Braz comentou do mito em algumas nações do "Sleep Giant", ou Gigante Adormecido, que inclusive é verso do Hino Nacional Brasileiro. Foi uma atividade muito interessante, pois não basta termos a nossa visão sobre nós mesmos, é bom conhecer a visão que os outros tem de nós, tanto como países ou indivíduos.
Muitos de nossos problemas talvez residam num modelo vigente de sociedade extremamente competitiva, e por conseguinte, excludente, onde a solidariedade e a cooperação seja a exceção da regra. Entretanto, nos projetos desenvolvidos pelo NTE, do qual faço parte, visamos exatamente essa colaboração e em alguns casos o voluntariado, como acontece no Projeto de Informática na Educação Especial, em que no ano de 2006 contamos com o apoio voluntário de 03 portadoras de necessidades especiais, nos auxiliando no trasncorrer das atividades: uma instrutor de Libras - Linguagem Brasileira de Sinais, que é surda; e duas monitoras que nos ensinaram a usar o Dosvox (que identifica o teclado com comandos de voz) que são cegas. Usar o portador de necessidades especiais não apenas como sujeito mas agente de inclusão é uma das formas que conseguimos nos incluir no ambiente de exclusão tecnológica que muitos de nossos 80 alunos estavam restritos. Os portadores de necessidades especiais, melhor do que ninguém sabem de suas necessidades, anseios e limitações, e a interação com eles nos proporcionou a nossa inclusão em seu universo, até então fechado para nós...
Durante o Curso do Prof. Braz, nas partes faladas em inglês, me senti meio portador de uma necessidade especial: a compreensão de um idioma estrangeiro que não domino. Com o diferencial, que embora não o entendesse plenamente, conseguia ouvi-lo... Os alunos surdos não têm essa possibilidade. Vivem num mundo silencioso, comandado pela imagem, por gestoe e sinais. Apesar disso, a imagem, que é o diferencial da informática, é o que aproxima os dois universos, além da Libras, evidentemente. A cultura surda, como a cega e doutros portadores de necessidades especiais, se não incorporadas ao cotidiano escolar faz com que duas "nações" estrangeiras, uma à outra, convivam no mesmo espaço geográfico, sem se comunicar: os PNEEs e os alunos regulares. Por isso, sou um ferrenho defensor da inclusão, não apenas pelo seu aspecto educacional, mas pela sua questão de cidadania, que leva à identidade.
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