Pay-per-view (pague para ver): exclusividade ou exclusão?
Pay-per-view ou pague para ver é um tipo de pacote para quem já possui TV a cabo, e mesmo assim, pela simples utilização do serviço e o pagamento da (nada módica) taxa mensal, não adquire por si só o direito de poder acessar programas complementares, de jogos a shows e eventos diversos, precisa literalmente pagar a mais para ver o “filé mignon” da programação.
Por causa da baixa qualidade da TV aberta, o telespectador mais exigente e com maior poder aquisitivo, forçosamente obriga-se a pagar para ver algo diverso do lugar-comum e da mesmice da TV tradicional, sempre ancorada em índices de audiências que vinculam a programação à concorrência. Talvez, por isso mesmo, que até mesmo aquelas emissoras que diziam antes prezar pelo padrão de qualidade, hoje, em função do índice de audiência, que representa também uma cota maior de patrocinadores e o valor do espaço publicitário comercializado em horário nobre, especialmente, tenham que adotar práticas que antes criticavam nas emissoras concorrentes... Tal situação já foi debatida no Observatório da Imprensa, um interessante programa televisivo da TVE-Brasil, a TV Educativa, que via de regra é retransmitida por canais a cabo ou antena parabólica, num país continental como o nosso que necessita, que emissoras desse tipo sejam fraqueadas a maioria da população. Mais que um contra-senso, é a constatação de uma dura realidade: Não tão-somente a televisão a cabo e sua programação é exclusividade para uns e excludente para muitos; outras situações do dia-a-dia refletem esse paradoxo social.
No dia 11/7, casualmente estava assistindo a TVE-Brasil, o programa Observatório da Imprensa (apresentado pelo jornalista Alberto Dines), que analisa sempre o papel da própria imprensa brasileira. Nessa noite a discussão temática era sobre às concessão de rádio e televisões no país. A jornalista Elvira Lobato dizia que essas concessões sempre foram moeda de troca política entre os governos. Um pouco pelo pragmatismo, cinismo e pressão dos deputados. Disse ainda haver um conflito de interesses de alguns deputados que sendo concessionários de rádio e TV, participam de conselhos que tratam dessa matéria. E alguns dados que Elvira apresentou são surpreendentes: “em determinado momento, das quarenta e nove (49) concessões disputadas por uma empresa, esta obteve seis (06) de TV e três (03) de rádio, e em investigação posterior foi possível determinar que os donos desse conglomerado eram assessores de políticos, ganhando em tese cerca de dois mil reais, valor incompatível com tal patrimônio”. São os tais laranjas, tão comuns em todas as áreas, do futebol à política. Elvira ainda comentou que as comissões da Câmara dos deputados e do Senado que tratam de política de rádio e difusão no país, e que deve fiscalizar as concessões, são constituídas por vários deputados e senadores donos destas concessões. Alguns são políticos eminentes que têm espécie de monopólio de rádio e difusão em seus estados (capitanias hereditárias?), servindo de braço político e de poder, alguns com a concessão expirada e mesmo assim integrantes das tais comissões. Existem cerca de 225 TVs sem renovação da concessão, funcionando irregularmente, muitas delas pertencentes a políticos. Entretanto, apesar dos inúmeros laranjas, que escondem-se atrás de outros laranjas e por ai vai, não tem como esconder a linha de apoio político que aquele meio de comunicação de massa possui. Basta que percebamos sua linha crítica contra A, B ou C... Que a rádios e TVs comunitárias podem ser um contraponto, se refletirem a visão de sua comunidade. Mas que esse tipo de empresa sofre uma rigorosa fiscalização.
Diante de fatos desse tipo, chega-se a conclusão: Eu sei que nada sei, e isso tudo é apenas a ponta de um iceberg. Quanto mais se vai atrás da informação, mais chegamos a conclusão de que nada é como primeiramente parece.
Observatório da Imprensa e outros são exemplos de programas sérios, esclarecedores e por isso mesmo, jamais farão parte da grade de programação da TV aberta, enquanto persistir esse modelo televisivo que é um grande comercial com uma programação no meio, preferindo investir em programas de faz-de-conta, tipo Big Brother e assemelhados, para lucrar com milhões de telefonemas, tendo como roteiro básico, ficar jovens e belos aspirantes a modelos e atrizes, presos sem fazer nada três meses numa casa, tramando e fofocando para ganhar um milhão... Que lição esses programas podem dar ao jovem, senão um estereótipo preocupante, tipo os fins justificam os meios?
Soube que a RBS TV apresentará uma série de especiais sobre a vida e a obra de Mário Quintana, como parte comemorativa de seu centenário de nascimento. Pela chamada deve ser um material de ótima qualidade, sem falar na magistral obra de Quintana. Mas com um pequeno detalhe: será apresentado aos domingos, após o programa Tele-Domingo; ou seja, após a uma hora da madrugada. Para o trabalhador e o povo em geral, que precisam levantar-se às seis da manhã para iniciar uma nova semana, será uma exclusividade para poucos e a exclusão para muitos... Assim é a lógica da TV aberta: programas de qualidade, no “madrugadão”, e os de qualidade duvidosa, de apelação barata e sensacionalistas, em “horário nobre”. “Hoje é dia de Maria”, uma mini-série revolucionária, mesclando teatro, musica, cinema, arte e cultura popular foi também colocada no limbo da programação. Diante dessa realidade televisiva, os insones, os desocupados e os alienados é que são felizes e não sabem!
Observação: a foto que ilustra esse texto é uma colagem de recortes de revistas, elaborada uns 5 ou 6 anos atrás, entre as várias terapias ocupacionais que tenho, para desestressar.
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