sexta-feira, novembro 02, 2007

Memória fotográfica e educação


Herdei de meu pai, o artista plástico Zeméco, uma certa memória fotográfica. José Américo Roig, o Zeméco, perdeu a visão do olho esquerdo, em função de descolamento da retina, quando trabalhava como vitrinista e desenhista das Lojas Mesbla em Porto Alegre, no início dos anos 1960. Por causa disso, viemos para São José do Norte - RS - Brasil, sua terra natal. Zeméco, depois de um tempo, continuou a pintar, e a fazer um resgate artístico, histórico e cultural de sua terra e região, através de sua pintura, que retrata casarios (muitos deles hoje inexistentes), paisagens e figuras ilustres. Muitos dos quadros foram retratados graças a memória fotográfica de meu pai, já que não existiam fotos sobre os mesmos.
Ontem a tarde, quando voltava de ônibus do mestrado em História da Literatura, onde sou aluno, para dar aula de informática educativa, no turno da noite a professores da rede pública estadual, reconheci alguns alunos do tempo que cuidei o prédio da EEEF Barão de Cêrro Largo, no turno da noite, cedido para o NEEJA-Rio Grande, enquanto eu aguardava as obras de implantação do NTE, na mesma escola Barão.
Em 2004, fiquei responsável pela abertura e fechamento e cuidado da escola Barão, utilizada pelo Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos. Ali, não somente fiz amizade com professores, mais também com alunos do supletivo. Conversávamos no intervalo. Admirava aquele grupo de alunos que vinha do trabalho, fizesse sol ou chuva, para poder concluir o ensino fundamental ou médio, por causa da necessidade de arranjar ou manter o emprego. É um dos paradoxos da modernidade: aqueles que quando jovem abandonaram os estudos para poder trabalhar, hoje, diante da competitividade do mercado, para se manter na iniciativa privada é necessário voltar a estudar para poder arranjar um bom emprego ou continuar no que já tem. Alguns daqueles alunos eu encontro seguido nas ruas da cidade e me reconhecem, outros, para minha satisfação, conseguiram concluir os estudos supletivos, prestaram o cada vez mais concorridíssimo vestibular na Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG), onde sou mestrando. Muitos não se lembram de mim, pois estou mais gordo (forte, risos) e sem barba. Mas eu lembro muito bem de cada rosto. Minha memória fotográfica é superior a memória no que tange a guardar nomes. Mas um rosto, sempre lembro, nem sempre cumulativamente ao nome. Mas o importante desta postagem é ressaltar a importância do estudo, e da volta a ele, seja qual for a idade e objetivo: seha trabalho ou para conhecimento próprio. Eu mesmo, depois de concluir a graduação em Direito (1990), e ter sido aprovado em 2º lugar no concurso público para dar aula de Direito e Legislação no magistério público estadual (2000), sem ter o complemento pedagógico, voltei aos estudos acadêmicos ano passado. Em 2006, por opção própria, me inscrevi e conclui especialização em História do Rio Grande do Sul: sociedade, política e cultura simultaneamente, trabalhando com informática educativa, foi oferecido a mim e a colega Janaina Martins, do NTE Rio Grande, especialização em tecnologia educacional (UFRGS-2006/2007), pelo e-proinfo, parceria MEC/SE-RS. Ao final do ano passado, prestei exame em mestrado, como forma de preparado para ter chance de tentar noutra oportunidade uma vaga, e acabei sendo aprovado, e evidentemente, tive que cursar em 2007 o mestrado em História da Literatura com a especilização em tecnologia educacional, já concluída, com defesa do TCC em novembro/2007. Uma coisa chama a outra, e hoje sinto-me na melhor fase da vida, tanto como educador como aluno, tendo publicado num período de 3 anos um livro, tendo sido pai, e, para seguir o ditado, plantei uma pequena árvore no quintal da casa de meu pai, lá na praia do Mar Grosso, em São José do Norte, onde ele vive há quase 30 anos.
Ter memória fotográfica ou não, é importantíssimo para o indivíduo tanto como para a sociedade, para evitar o esquecimento de pessoas, fatos e fotos. Eu e meu pai fazemos nosso resgate histórico, cada qual a sua maneira, utilizando as tintas, eu sobre o papel e ele sobre telas. Ao reconhecermos o valor daqueles que estudam e buscam dar o seu melhor num mundo tão competitivo e que louva a descartabilidade de coisas e pessoas, cabe salientar que ninguém é melhor do que ninguém. Mas todos devemos dar nosso melhor em prol de uma educação e vida de qualidade.
Observação: Imagem acima, colagem de minha autoria, a partir de recortes de revistas antigas. Uma de minhas terapias para desestressar de tantas atividades simultâneas.